ENSINO,
APRENDIZAGEM, TECNOLOGIA E INCLUSÃO: PERSPECTIVAS E PRÁTICAS
Danielle Santos
Mestre
em Educação, FCT/Unesp
Márcia Debieux
Especialista
em Educação Especial ,
FCT/Unesp
Naiara Chierici
Licenciada
em Matemática, FCT/Unesp
A realidade social dos estudantes
e as práticas de ensino presentes nas escolas tem estado cada vez mais
distantes, desconectadas, e por isso fazem com que a escola e o ensino se
tornem desinteressantes para os estudantes, refletindo em reações como
indisciplina, desmotivação e falta de interesse. E esse contexto ainda
apresenta a inserção das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação
(TDIC) na sociedade e na escola, além das perspectivas de Inclusão Escolar.
Por isso, escola e professores
encontram-se diante da urgência em se preparar de modo consciente para que o
espaço escolar se traduza em um espaço de preparação dos indivíduos para
interação na sociedade. Com isso, fica clara a possibilidade de que as
informações veiculadas tanto na escola quanto na sociedade sejam vinculadas ao
aprimoramento nas áreas da ciência e da tecnologia.
Segundo Tedesco (1998), a
Escola é o setor que mais tem sofrido intervenções das Políticas Públicas nos
últimos anos. E contrariamente a Idade Média, onde o conhecimento e o ingresso
acadêmico eram privilégios de poucos, hoje, a Educação, em consonância com os
princípios constantes da Declaração de Jomtien, Tailândia (1989) e os da Declaração
de Salamanca, Espanha (1994), bem como da Lei de Diretrizes e Bases, Brasil
(1996), vem se caracterizando pela educação para a diversidade.
Assim, era de se esperar que
a Escola, fosse hoje, o lugar mais fascinante para se desvendar o mundo.
Entretanto, com o advento TDIC, trazendo as informações por todos os lados (TV,
rádios, revistas, jornais, Internet, redes sociais, etc.), educar a todos e em
uma sociedade em constante transformação, onde os valores, as crenças e os
ideais se modificam quase que continuamente, é um trabalho complexo - um grande
desafio imposto aos educadores. Segundo Martins (2009), “cada vez mais o acesso
às informações amplia-se a uma velocidade assustadora, onde a informação não é
mais privilégio das instituições educacionais e sim propriedade da humanidade”.
Dessa forma, fica claro que
os preceitos educativos precisam se modificar já que os métodos instrucionais
tradicionais perderam o significado. Todo esse processo acaba exigindo dos professores
uma avaliação reflexiva em relação à sua postura e prática docente, além da
imprescindível busca por novas metodologias de ensino e do aperfeiçoamento de competências
pessoais e profissionais, a fim de responder às expectativas, tanto do corpo
discente como da sociedade em geral.
Segundo Abreu e Masetto
(1990, p. 115):
é o modo de
agir do professor em sala de aula, mais do que suas características de
personalidade que colabora para uma adequada aprendizagem dos estudantes. O
modo de agir do professor em sala de aula fundamenta-se numa determinada
concepção do papel do professor, que por sua vez reflete valores e padrões da
sociedade.
Já não cabe então ao
professor, “professar” informações para os estudantes. Este (o professor) tem
que ser capaz de despertar um desequilíbrio cognitivo no estudante, criando
estratégias motivadoras, contextualizadas e significativas, potencializando e
mediando os processos de significação dos conteúdos, enquanto os discentes vão
construindo seus conhecimentos. O professor tem que ser capaz de tecer as
linhas tênues que atrelarão o conhecimento formal à produção individual dos estudantes.
Precisa ainda, estar atento
a inúmeros fatores que influenciam os processos educativos, como por exemplo, a
afetividade na relação professor-estudante - tão comumente preterida em favor
do desenvolvimento cognitivo -, e as emoções na sala de aula - especialmente
com a proliferação dos processos de bullying.
Segundo Faro (2012, p. 1):
É importante que o professor
perceba-se como facilitador do processo de aprendizagem, pois, quando a relação
que estabelece com seu estudante é pautada no vínculo e no afeto, propicia a
ele a oportunidade de: mostrar, guardar, criar, entregar o conhecimento e
permite que o outro possa investigar, incorporar e apropriar-se do
conhecimento. Desta forma há uma relação que ultrapassa o nível acadêmico e
permite que ocorra um olhar diferenciado em direção ao desconhecido.
O psicólogo francês Henri
Wallon, propôs analisar a relação entre professores e estudantes na construção
do conhecimento; Maria Cândida Morais, discorreu, entre outras coisas, sobre a
inteligência emocional; José Armando Valente; Maturana; Varella; Mantoan;
Omote, etc., evidenciam a importância da afetividade, como propulsora dos
processos cognitivos, bem como dos inclusivos.
Assim como a afetividade, os
diferentes tipos de linguagens, de estilos de aprendizagem – já que nem todos
aprendem da mesma forma -, bem como as abordagens teórico-pedagógicas, também
devem ser observados e explorados pelo professor, para potencializar os
processos de ensino-aprendizagem.
Abreu e Masetto (1996)
classificam a aprendizagem em três categorias – cognitiva (ou de conhecimento);
de modificação de valores e atitudes; e de habilidades (aprende a fazer alguma
coisa) – indicando que o professor lida o tempo todo não só com o que o estudante
aprende cognitivamente, mas também com atitudes e habilidades.
Assim, em uma sociedade onde
cotidianamente somos soterrados por notícias de enriquecimento ilícito -
corrupção, tráfico de drogas e/ou de influência; onde atletas, muitas vezes sem
estudos, são exageradamente bem remunerados e semianalfabetos tem a
possibilidade de chegar ao governo, recebendo polpudos salários, resgatar a
crença de que a Escola é um dos melhores meios de realização profissional e
ascensão social é mais um dos grandes desafios dos educadores hoje em dia. E
nesse sentido, cabe ao professor encontrar meios para estimular seus estudantes,
transformando-os, de sujeitos passivos/reprodutivos, em sujeitos participativos/produtivos,
conscientes de seus atos, capazes de perceber a importância e assumir sua
parcela de responsabilidade em sua formação.
Desse modo, quando se fala
em educação, segundo Mantoan[1],
deve-se pensar então, em: interdisciplinaridade; ampliação de experiências de
comunicação e interação entre estudantes e professores; vivências intra e interescolares,
que implicam na pluralidade de pontos de vista; troca de ideias; e escolhas
compartilhadas, buscando sempre, uma aprendizagem colaborativa, significativa e
contextualizada. Distinguir, elaborar, discernir,
planejar, apresentar, instigar, despertar, investir, são capacidades que se
espera do educador, para alicerçar o desenvolvimento de sujeitos capazes de
compreender e elaborar acontecimentos, ampliando, assim os horizontes de
conhecimento e realização dos discentes.
Neste novo cenário, onde as
demandas são infinitamente maiores que no tempo do instrucionismo, o
planejamento cuidadoso da aula vem se caracterizando, ainda mais, como grande
diferencial para obtenção, ou não, do sucesso nos resultados esperados.
Esse momento precioso de
reflexão, de aprimoramento das ações - em que através de atividades propostas, visa-se
trabalhar os conteúdos previstos de forma a atingir objetivos idealizados e
potencializar resultados esperados -, deve reunir diferentes dimensões, entre
elas as psicológicas, sócias e filosóficas, para determinar com clareza o que,
para que e, principalmente, como ensinar. Assim, é imperativo que o
planejamento das aulas deva firmar suas raízes em um projeto pedagógico maior -
desenvolvido institucionalmente -, vinculando seus conteúdos a uma sequência anteriormente
estudada e prevista, mas ao mesmo tempo, deve ser flexível o suficiente, para
se articular aos diferentes públicos aos quais se destina. Para Schmitz (2000, p.101),
Qualquer atividade, para ter sucesso,
necessita ser planejada. O planejamento é uma espécie de garantia dos
resultados. E sendo a educação, especialmente a educação escolar, uma atividade
sistemática, uma organização da situação de aprendizagem, ela necessita
evidentemente de planejamento muito sério. Não se pode improvisar a educação,
seja ela qual for o seu nível.
Então, embora o planejamento
da aula siga, mais ou menos, os mesmos preceitos desde há muito tempo, o
professor atualmente precisa articular todas essas demandas à necessidade de
transformar sua aula em algo atrativo e dinâmico, de forma a chamar e manter a
atenção de estudantes acostumados às tecnologias, que muitas vezes apresentam
os mesmos conteúdos, de forma agradável e interativa, como por meio de jogos,
documentários, etc.
Obviamente, não se espera
que o educador transforme suas aulas em espetáculos da vida cotidiana, mas mais
do que nunca, a escola precisa se tornar mais atraente, recorrendo a recursos
midiáticos e tecnológicos, como rádio, vídeos, simulações, Objetos
Educacionais, Ambientes Virtuais de Aprendizagem, etc.
Nesse sentido, a elaboração
de recursos para suporte pedagógico, está em pleno desenvolvimento e, sendo
eles digitais ou não, os professores já podem contar com inúmeros destes
facilitadores dos processos educacionais, para incrementar sua prática docente.
Entretanto, cabe ressaltar, que esses recursos não encerram em si, o sucesso da
aprendizagem, não permitindo assim ao educador, ser apenas um aplicador de
estratégias, com receitas pré-determinadas. Cabe ao professor explorar os
vários recursos existentes e suas potencialidades, estimulando o valor
significativo dos conteúdos e, ao mesmo tempo, articulando-os ao perfil de cada
turma.
Assim, o empenho no
planejamento da aula, a busca de recursos pedagógicos que ajudem o professor a
tornar sua aula mais dinâmica e interessante são elementos fundamentais para o
sucesso dos processos cognitivos, e a avaliação desse percurso e de seus
resultados apresentará, com clareza, os pontos positivos e negativos do
projeto.
A troca de resultados,
impressões e observações, nos momentos de trabalho coletivo, também contribuem
significativamente, para o aprimoramento dos processos de ensino-aprendizagem.
Assim a escola vem se apropriando e se fortalecendo, também, por meio do
trabalho colaborativo e interdisciplinar.
Com isso tem-se a necessidade
de uma metodologia de ensino pautada e muito bem fundamentada nas experiências
dos estudantes, na interdisciplinaridade e na aprendizagem significativa dos
mesmos.
A prática de ensino na
vertente de Trabalho com Projetos torna-se diante do exposto uma experiência
desafiadora, possibilitando articular essa nova realidade do ensino, superando
práticas tradicionais que não cabe mais conceber enquanto educadores.
Para isso as concepções de
projetos em sala de aula a partir de Hernández (1998) busca uma totalidade na
participação efetiva de todos os estudantes, de forma que ninguém fique
desconectado, encontrando e conquistando o seu lugar na aprendizagem e fazendo
disso algo mais prazeroso e interessante.
A função do projeto é
favorecer e melhor explorar a criação de estratégias de organização dos
conhecimentos escolares em relação:
1) o tratamento da
informação, e 2)a relação entre os diferentes conteúdos em torno de problemas
ou hipóteses que facilitem aos estudantes a construção de seus conhecimentos, a
transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em
conhecimento próprio. (HERNÁNDEZ, 1998, p. 61)
Um trabalho com projetos por
meio das tecnologias possibilita criar novas possibilidades ao ensino, à
aprendizagem, à construção de conhecimento, principalmente com projetos
colaborativos, como esclarece Almeida (2001).
Dessa forma, buscando um
trabalho de parceria com os estudantes, criando um vínculo de respeito e
amizade no processo de ensino e aprendizagem a fim de melhorar o interesse e
participação dos estudantes é que se tem a partir dessa vertente:
Um ambiente de
confiança, respeito às diferenças e reciprocidade, que encoraja o estudante a
reconhecer os seus conflitos e a descobrir a potencialidade de aprender a
partir dos próprios erros. (ALMEIDA, 2001, p. 58).
Nesse contexto, como explica
Santos (2007) o trabalho com projetos “implica em transpor barreiras para que
as diferenças sejam aceitas e as habilidades sejam evidenciadas, uma vez que o
professor media o pensamento do estudante entre aquilo que ele já sabe, com os
conceitos que devem ser formalizados por meio da realização das atividades”.
O professor deve incentivar e proporcionar
situações para que os estudantes se expressem de tal forma que, como afirma
Hernandez e Ventura (1998), se torne possível transformar as informações
pré-existentes (conhecimento cotidiano) para o que a escola possa auxiliá-lo a
sistematizar e formalizar transformando em conhecimento científico.
Trabalhar com projetos
requer muito empenho e compromisso de todos os envolvidos no ambiente escolar.
É preciso que as concepções de conhecimento, ensino e aprendizagem dos
educadores sejam explicitadas e confrontadas com a abordagem implícita no
trabalho com projetos, possibilitando que os envolvidos construam pontes entre
conhecimentos, valores, crenças, usos e costumes (Almeida 2001) favorecendo e
desenvolvendo ações que contribuem para a transformação social.
Portanto essa abordagem
supõe uma nova postura/atitude profissional que desperte o interesse da
perspectiva da mudança na escola, questionando práticas, ocorrendo
transformações profissionais, pessoais e institucionais, modificando a rotina
da sala de aula e a consciência da necessidade de transformar a prática
pedagógica em um ato criativo.
Referências
ABREU, M. C.; MASETTO, M. T. O Professor universitário em sala de aula: prática e princípios teóricos. 1. ed. São Paulo: MG Ed. Associados, 1996.
ALMEIDA, M. E. B. Educação, Projetos, Tecnologia e Conhecimento. -1. ed. São Paulo: PROEM, 2001.
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FARO, C.G.M.. O
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http://www.profala.com/arteducesp81.htm. Acesso em: 01 mar. 2012
HERNÁNDEZ, F. Transgressão
e mudança na educação. Os projetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 1998.
HERNÁNDEZ, F.;
VENTURA, M. A organização do currículo
por projetos de trabalho. Tradução
Jussara Haubert Rodrigues. 5. ed. Porto Alegre:
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MOTA, R. Aprendizagem e inclusão digital. Jornal de Brasília,
Brasília, 23 abr. 2006. p. 35.SANTOS, D. A. N. A Formação de professores de uma escola da rede pública estadual em serviço para o trabalho com projetos utilizando as tecnologias de informação e comunicação. 2007. 150f. . Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Presidente Prudente, 2006.
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TEDESCO,
J. C. O novo pacto educativo: Educação, competitividade e cidadania na
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2002.
[1] MANTOAN, M.T.E. Explorando o ciber espaço nas trilhas da
inclusão. Disponível em:
http://www.abmp.org.br/textos/162.htm. Acesso em: 28 fev. 2012.
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