MATERIAL
ADAPTADO DO CURSO DE EXTENSÃO SALA DE APOIO MINISTRADO PELA:
Clélia
Maria Ignatius Nogueira
Regina
Maria Pavanello
Lucilene
Adorno
E do texto:
DIFICULDADES
DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA
Clélia
Maria Ignatius Nogueira
Doherty
Andrade
Regina
Maria Pavanello
DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA: O QUE É ISSO?
Buscar
explicações para o mau desempenho das crianças em matemática pode ser um
processo complexo, uma vez que estão envolvidas nele variáveis diversas desde
problemas inerentes à criança e seu ambiente sócio-cultural até à natureza do
conhecimento matemático e sua transposição didática.
Em
outras palavras, a própria escola pode ser a principal responsável pelas
dificuldades das crianças em matemática.
Existem
muitos tipos de dificuldades em aritmética, além disso, estes tipos de
dificuldades combinam-se entre si, dentre as quais podemos citar:
- Dificuldades no pensamento operatório
-
Dificuldades espaço-temporais
-
Dificuldades de figura/fundo
-
Dificuldades linguísticas
-
Dificuldades mnemônicas
Dificuldades no pensamento operatório
• Falta
da noção maior/menor em relação aos números
• Falta
da noção de antes e depois
• Impossibilidade
de realizar cálculos mentais
• Necessidade
absoluta de concretizar as operações
• Impossibilidade
de identificar as operações correspondentes a um problema
• Incapacidade
de compreender a multiplicação como adição reiterada e a divisão como subtração
continuada do mesmo número
Complementando: ... O que seriam
dificuldades no pensamento operatório?
Para respondermos a esta questão, é necessário
investigarmos quais são as estruturas lógico-matemáticas que o nosso pequeno
educando tem construídas, ou seja, se elas já estão prontas para que ele possa
compreender os temas exigidos.
Se não existem, por exemplo a correspondência termo
a termo, a seriação e a classificação, não existe também o conceito de número.
Mas,
o que são estruturas lógico-matemáticas?
As estruturas lógico matemáticas são organizações
elementares que regem a maioria dos raciocínios necessários à vida prática e
sem os quais a inteligência não pode ser exercida. A classificação, a seriação,
responsáveis pela “cardinação” e a “ordinação” numéricas não
dizem respeito apenas à lógica e à matemática e não se referem somente a
objetos físicos mas também a acontecimentos, informações, estimativas, que
surgem ou são fornecidas no espaço e no tempo da vida real.
Como
investigar isso?
O caminho ideal seria a aplicação de exames por um
psicopedagogo.
Como isso nem sempre é possível, o professor pode
propor algumas atividades e observar o desempenho do nosso pequeno educando
nelas, para poder trabalhar a partir daí.
Atividades
referentes à construção das estruturas lógico matemáticas...
Correspondência termo-a-termo: esta expressão é utilizada para indicar que a
criança deverá relacionar elementos determinando seus pares.
O professor desenvolve atividades de correspondência
biunívoca, quando solicita que
a criança faça corresponder: figuras iguais ou com algumas semelhanças;
numerais a quantidades; numerais a numerais ou quantidades a quantidades;
letras maiúsculas a minúsculas; figuras a objetos; formas geométricas; nomes às
cores ou formas; objetos à sua utilidade; pessoas às suas profissões; animais a
seus filhotes; cadeiras aos alunos; xícaras a pires; jogo de memória; etc.
Classificação: é o ato de agrupar elementos por meio de uma ação
mental ou física, levando-se em conta alguma característica em comum. Por
exemplo, A se relaciona com B, porque tem a mesma cor e B se relaciona com A
porque tem a mesma cor.
São atividades que favorecem a classificação: separar objetos de
acordo com suas semelhanças; classificar figuras de animais em subclasses:
aves, mamíferos, aquáticos, terrestres, nocivos, selvagens, domésticos, etc.;
blocos lógicos; agrupar objetos da sala, mediante algum critério; separar
figuras ou objetos de acordo com sua utilidade, tipo, material de que são
feitas.
Seriação: Para que haja seriação é necessário que a criança
seja capaz de estabelecer uma relação entre dois objetos com base em algum
atributo específico, sendo que o motivo que faz um elemento A se relacionar com
B, não é o mesmo que faz B se relacionar com A por exemplo A < B, porque B
>A
Numa seriação, os objetos
devem ser organizados num arranjo linear. Este tipo de arranjo é fundamental
pois se os elementos estiverem distribuídos de maneira irregular no espaço, não
será possível a determinação dos “vizinhos” e, consequentemente, estabelecer as
relações de “vem antes de” ou “vem depois de” para se estabelecer uma
ordenação.
Inicialmente, a seriação pode ser efetivada mediante
tentativas ou através de ensaio e erro para depois passar a uma seriação
interiorizada concreta.
Ao ser capaz de uma seriação interiorizada concreta, a criança se torna também
capaz de perceber que um objeto pode ser ao mesmo tempo maior e menor que, mais
grosso que e mais fino que, etc. dependendo dos objetos com os quais se
relaciona, é o conhecimento lógico-matemático, que está presente não nos
objetos em si, mas nas relações mentais estabelecidas entre eles
Quantificadores - As atividades de seriação são fundamentais, pois
permitem à criança manipular conceitos tais como mais/menos, tudo/nada,
alguns/quase todos, igual, o mesmo que, ou seja, os quantificadores ou
pré-números.
Dificuldades no uso dos
quantificadores podem levar a falhas no pensamento operatório dos tipos: falta
de noção maior/menor nos números; falta da noção de antecedente e conseqüente;
impossibilidade de realizar cálculos mentais, etc.
Os quantificadores devem ser trabalhados aos pares
(como relações assimétricas), contrapondo um ao outro: se numa cesta tem muitos
ovos é porque em outra ou nessa mesma cesta, anteriormente, tinha poucos ovos.
Devem ser apresentadas questões do tipo “quem tem mais”; “quanto tem a menos”,
“quanto é maior”, etc.
Está se trabalhando com seriação,
quando se utiliza relações assimétricas, tipo grande/pequeno; alto/baixo;
gordo/magro; largo/estreito; ordenações (do maior para o menor e vice-versa)
nos planos horizontal e vertical; com objetos planos ou tridimensionais, etc.
Importante:
Essas
“estruturas” são construídas ao mesmo tempo e de maneira solidária com o
número. Se elas não estão consolidadas, também não temos o número.
Dificuldades espaço-temporais
• Escrita espelhada dos números
• Inversão dos algarismos de um número
• Falhas na disposição dos algarismos em
colunas
• Falha no reconhecimento e discriminação
de figuras geométricas
Dando continuidade... E o que
seriam as dificuldades espaço-temporais?
Da mesma maneira que o número, o espaço e a medida
são construídos pela criança, num longo e complexo processo. O professor pode
observar os níveis perceptuais da criança, principalmente no que se refere ao
esquema corporal, posição e localização no espaço e outras relações espaciais.
Construção e representação do espaço: na construção
e representação do espaço pela criança, são consideradas três tipos de relações
(matemáticas):
as topológicas,
as projetivas e
as euclidianas.
As relações topológicas
simples, são tratadas quando trabalhamos com noções de vizinhança,
separação, interior e exterior, com a utilização de expressões como “dentro”,
“fora”, “ao lado de”, “vizinho de”, “região”, “contínuo” e “descontínuo”, etc.
As localizações que podemos fazer utilizando estas
relações não variam de acordo com o ponto de vista do observador, por exemplo,
se uma criança está dentro de uma roda de crianças, ela está no interior da
roda tanto para ela, quanto para seus companheiros.
Estamos proporcionando o estabelecimento de relações
topológicas quando realizamos
atividades de: colorir o interior da curva fechada; fechar curvas que estão
abertas; recortar e colar figuras de objetos na fronteira da curva;
brincadeiras de roda; amarelinha; localizar objetos na sala de aula; descrever
caminhos; caminhar sobre cordas no chão, representando curvas abertas ou
fechadas; riscar o chão com giz; colocar objetos em lugares determinados pelo
professor (dentro, fora, perto, longe, ao lado de, entre, etc.); esconder objetos
e pedir que as crianças os encontrem, indicando as posições, etc.
Como um desdobramento das relações topológicas, surgem outras que
requerem um grau maior de sofisticação. As noções de “direita”, “esquerda”, “em
cima”, “embaixo”, “na frente”, “atrás”, etc., exigem que a criança seja capaz
de fixar um ponto de referência para localizar os elementos. Estas relações são
chamadas projetivas e variam
de acordo com o observador, ou seja, são relativas.
São muitas as atividades realizadas cotidianamente
que objetivam o estabelecimento de relações projetivas, tais como: recortar e
colar uma árvore atrás da casa (contribui para o desenvolvimento da motricidade
fina); construir uma cidade com blocos de madeira; organizar filas; pedir quem
está à direita e quem está à esquerda; andar pela escola e dizer quais salas
estão à direita e quais estão à esquerda e retornar ao ponto de partida,
mostrando a relatividade dos conceitos; fazer o mapa para ir à biblioteca ou ao
banheiro; localizar objetos escondidos a partir de pistas; dispor o material
escolar a partir de determinadas ordens como, o estojo acima e à direita, etc
As relações euclidianas
(que são estabelecidas ao mesmo tempo em que as projetivas), referem-se
às localizações e medidas, envolvendo noções de comprimento, área e volume.
O trabalho com formas geométricas contribui para as
crianças adquirirem senso de organização e orientação espacial, desenvolve a
coordenação viso-motora e auxilia na leitura e compreensão de gráficos, mapas e
outras informações visuais típicas da sociedade contemporânea.
Deve-se explorar, além dos conteúdos tradicionais,
atividades com padrões geométricos pois estes, mais do que a descoberta de
regularidades, permitem à criança compreender a noção de ritmo ao “visualizar”
a “duração” (quantas vezes se repete o padrão) e “sucessão” (o que vem antes e
o que vem depois), elementos constituintes do “tempo”, outro conceito de
difícil construção pela criança.
Na mesma linha, situa-se o trabalho com simetrias e
atividades que envolvem “vistas de objetos”, (confecção de mapas de bairros,
plantas de residências e desenhos de trajetos, são exemplos de situações
envolvendo “vistas superiores”). No mundo de hoje, saber interpretar
representações visuais, é imprescindível para todos os indivíduos.
Exemplos de atividades: fazer estimativas; realizar medições usando partes
do corpo como unidades de medida (palmos, pés, passos, etc.); mostrar a
necessidade da unidade padrão de medidas; estimar se certa quantidade de papel
é suficiente para embrulhar determinado objeto; estimar se determinado objeto
“cabe” dentro de uma determinada caixa; arrumar os livros em uma estante;
distribuir os móveis em uma sala de modo a deixar mais espaço livre; construir
sólidos geométricos a partir de modelos; construir maquetes da escola, de um
campo de futebol, etc.
Dificuldades linguísticas
• Dificuldade de leitura
• Dificuldade de interpretação
• Vocabulário insuficiente
Se
diagnosticarmos falhas lingüísticas, pois não lê fluentemente, tem vocabulário
restrito e dificuldades de interpretação do enunciado de problemas.
Evidentemente
nosso pequeno necessita de um intenso trabalho com problemas tanto orais como escritos.
Porém,
o enunciado desses problemas merece um cuidado especial.
Deve-se ter em mente que as crianças ainda estão em
processo de alfabetização, por isso, não é recomendável que o enunciado
de problemas seja aproveitado para enriquecimento de vocabulário.
É
conveniente que os problemas sejam redigidos com, frases simples e curtas,
evitando o uso de pronomes, advérbios ou adjetivos supérfluos e, que se
verifique, a cada novo problema, se a criança compreende todos os termos
utilizados no enunciado, ou se conhece bem um sinônimo.
Para minimizar as dificuldades de interpretação, o
professor deve concretizar os problemas consistentemente, enquanto se
explica, com linguagem clara e simples, o que enunciado solicita.
A concretização das situações-problema e o uso de materiais
manipuláveis devem ser mantidos até se ter a certeza de que a
criança é capaz de operar somente com símbolos, sejam eles números ou
palavras. Essas atividades proporcionam uma base operacional concreta
para que, no futuro, a criança atue verbalmente utilizando a
linguagem escrita, a oral ou a matemática.
Observação Importante: A dificuldade de interpretação
de problemas, no entanto, não se resume a falhas de caráter linguístico. Um
outro aspecto a ser considerado são os diferentes significados que as operações
possuem.
As operações elementares
Compreender operações exige compreender seus significados,
poder decidir em que situações elas se aplicam. Isto vai muito além de apenas
saber fazer contas. Na verdade, dominar o algoritmo pode não representar uma
dificuldade para a criança e, ainda assim, ela pode não saber identificar em
que situações pode utilizá-lo.
Dificuldades de figura/fundo
• Dificuldade de concentração
• Dificuldade em estabelecer ou acompanhar
uma seqüência de etapas para a resolução de um problema (pular operações,
repetir operações, associar elementos de etapas diferentes, confundir números a
serem operados)
• Dificuldade em realizar uma tarefa mais
extensa (operações com muitas parcelas, números com muitos algarismos,
problemas com muitas operações ou muitas etapas) impossibilitando a evocação
correta de conhecimentos anteriores.
Dando continuidade as dificuldades de figura/fundo...
Observe
se nosso educando é desatento, tem dificuldade de concentração e
se cansa com facilidade das tarefas
Para
superar estas dificuldades, é necessário fixar com exatidão qual é a duração da
atenção útil do nosso educando e
trabalhar de acordo com ele.
Oferecer
operações e problemas breves.
Não sobrecarregar de tarefas a folha de
trabalho: um só problema por página, uma ou duas operações por página.
Trabalhar com sulfite colorido, ou
outro tipo de papel e material.
Neste
caso devemos ter cuidados com a questão do estimulo visual: deve ser um
ambiente de trabalho desprovido de estímulos visuais desnecessários ou
perturbadores: só são vistos o professor, a criança, os móveis imprescindíveis,
e, sobre a mesa, devem ser colocados unicamente os materiais que interessam no
momento do trabalho.
É importante
conversarmos com a criança sobre as
tarefas, fazendo-a antecipar oralmente o que irá realizar, por exemplo,
dizer que operação ou que etapas cumprirá nos problemas aritméticos e o porquê
dos mesmos; só após isso, a criança começará efetuar os problemas.
Caso
a criança apresente idéias equivocadas, não dar indícios de que ela errou, mas
sim, indagar se não haveria outra forma de resolver a questão, inclusive,
contrapondo com observações do tipo:
“Joãozinho me disse que
resolve problemas desse tipo de tal maneira (explicitar como), o que você acha
disso?”
Esse
procedimento não deve, porém, ficar restrito apenas a situações em que a
resposta da criança não é a esperada, de modo a não se transformar numa regra
do contrato didático, mas, ser, inclusive, utilizada em casos de acertos, para
verificar a segurança da criança em seus conhecimentos
Dificuldades mnemônicas
• Esquecimento de regras, tabuada,
procedimentos, mesmo quando há a compreensão da atividade.
Essas dificuldades comumente estão associadas às de
figura/fundo. Uma grande queixa dos professores é não saber “de cor” a tabuada.
Essa fixação pode ser feita de maneira mais agradável, utilizando jogos.
É conveniente que a criança tenha uma “tabela” de
tabuadas a que ela possa recorrer. Gradativamente, deve-se retirar este apoio,
porém, nunca de uma maneira abrupta e absoluta. Tudo isso, é evidente, só pode
ser efetivado, se houver a certeza de que a criança compreendeu a estrutura da
tabuada e o significado da multiplicação.
É melhor que sejam oferecidas atividades com tabuada dez
minutos, todos os dias, do que um dia só de tabuada. Vamos discutir isso quando
estudarmos a multiplicação.
Pensando nas
dificuldades e agindo para superá-las
Para
podermos elaborar uma proposta de intervenção:
Especificamente no que se
refere à aprendizagem da matemática, para buscar as causas, algumas observações
precisam ser realizadas para o estabelecimento de um ponto de partida para a
proposta de intervenção.
A intervenção nem sempre oferece resultados imediatos,
porque a criança tem seus próprios tempos e limites e é fundamental
respeitá-los.
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